4ª Semana Eucarística da Paróquia Nossa Senhora da Conceição – João Monlevade-MG.
Tema: Eucaristia: fraternidade e diálogo compromisso de amor!
Lema: “A fim de que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti” (Jo 17, 20-21).
Solenidade de Corpus Christi.
Corpus Christi significa Corpo de Cristo. Desde o século XIII, a Igreja celebra essa solenidade enfatizando o sentido da eucaristia. Cristo a instituiu como memorial da sua paixão, morte e ressurreição. A densidade teológica, eclesial e espiritual desse memorial justifica esse dia dedicado à oração, à reflexão e à manifestação pública da fé cristã na eucaristia. Os Evangelhos, o Apóstolo Paulo e outros textos do Novo Testamento relatam o memorial eucarístico. A eucaristia é, pois, muito mais que uma celebração. Ela é uma dimensão fundamental da vida cristã que deve se manifestar na qualidade de nossas relações interpessoais e da organização de nossa vida social. Onde a vida e o pão são partilhados, Cristo está presente. Sua presença na eucaristia é mais que simbólica. Ela é real. Pela consagração, o pão e o vinho são substancialmente transformados em corpo e sangue de Cristo, que significam “vida para o mundo” (Jo 6,51).
Cristo está sacramentalmente presente sob as espécies de pão e vinho consagrados, significando seu corpo sacrificado e seu sangue derramado na cruz para salvação da humanidade. Ele continua presente na Comunidade Eclesial Missionária, pois esta é também o corpo vivo e vivificante de Cristo. Ele está presente nos cristãos e, finalmente, em todas as pessoas de boa vontade que vivem e atuam em comunhão, em prol da vida na sua integralidade e do bem comum. A solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo desafia, portanto, as próprias comunidades cristãs a serem mais unidas, como testemunhas do amor almejado por Cristo à humanidade. Após a última ceia, Cristo rogou a Deus Pai por todos os que, por meio de sua Palavra acreditariam nele, para que se tornassem um (cf. Jo 17). Essa oração de Cristo inspira-nos a orar pela unidade dos cristãos e todos os seres humanos, e por suas ações comuns em favor da justiça social.
A ceia do Senhor tem, portanto, uma dimensão social, não podendo ser celebrada indignamente. Sua autenticidade deve ser comprovada sobretudo pela comunhão em Cristo e pela solidariedade para com os pobres e sofredores, com quem ele se identifica (cf. Mt 25,31-46). Por fim, ela não é intimista. Seus efeitos não se limitam ao coração. Afinal, por ela somos desafiados a superar discórdias, promover altruísmo e gerar um “estilo eucarístico de vida social”. Por meio da Eucarística que nossa fé é validada e concretiza, pois o Jesus Cristo faz-se presente, verdadeiramente, no meio de nós como o alimento salvífico, pois “a Eucaristia dá-nos uma grande inclinação para a virtude, uma grande paz e torna mais fácil o caminho para a santificação” (São João Crisóstomo).
É este mesmo Corpo e Sangue que repara nossas falhas e nos purifica de todos os pecados, pois “o Sangue de Cristo, purificará a nossa consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo, pois, em virtude do espírito eterno, Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha” (cf. Hb 9,14).
Ora, a Solenidade de Corpus Christi enfatiza onde buscar o Verdadeiro Tesouro para a alma: Jesus Cristo transubstanciado na Eucaristia. Enfim, “esforçai-vos, portanto, por vos reunir mais frequentemente, para celebrar a Eucaristia de Deus e o seu louvor. Pois quando realizais frequentes reuniões, são aniquiladas as forças de Satanás e se desfaz seu malefício por vossa união na fé. Nada há melhor do que a paz, pela qual cessa a guerra das potências celestes e terrestres.” (Santo Inácio de Antioquia – Carta aos Efésios).
Este ano nossa Quarta Semana Eucarística se inspira no tema da Campanha da Fraternidade teve início exatamente quando começa a Quaresma, e a Quaresma para nós é um tempo de conversão, é um tempo de mudança de vida, e é nesse sentido que a cada ano a gente procura refletir um tema presente na sociedade, que nos desafia também a vivenciar esta fraternidade. Por que então o tema fraternidade e diálogo: compromisso de amor? Exatamente para dizer que nós precisamos caminhar juntos, não é a diferença de credos que vai nos separar, mas pelo contrário; a riqueza de cada igreja, de cada religião deveria nos favorecer sempre mais nessa busca por um mundo novo, um mundo melhor. Somos chamados e chamadas para estarmos abertos ao diálogo, e maior que ao diálogo com as igrejas cristãs, fazer também este diálogo inter-religioso com outros credos, com outras religiões. O amor vem em primeiro lugar como defesa da vida, nos leva cada vez mais à luta por justiça, por um mundo melhor.
“Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2,14a). “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”. Começamos mais uma vez a Campanha da Fraternidade, para viver concretamente a caridade durante o período quaresmal. Trata-se de uma iniciativa da Igreja Católica, com benefícios notáveis para instituições e pessoas, sempre na perspectiva da caridade. É nossa marca, e devemos cuidar dela, melhorá-la sempre mais, como se expressa a presidência da CNBB em carta recente. Uma graça imensa que é derramada pelo Brasil afora, com manifestações de serviço e amor ao próximo. Queremos agradecer a Deus por mais esta oportunidade de crescimento na vida cristã! Para este ano, o tema escolhido foi o diálogo. “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”. Desta feita, mais uma vez a Campanha da Fraternidade é ecumênica, como tem acontecido a cada cinco anos, com participação de Igrejas cristãs que compartilham conosco o mesmo Batismo e a Fé em Jesus Cristo. O texto-base da Campanha deste ano foi elaborado por Comunidades Evangélicas do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC). Não se trata de um texto ao estilo do que ocorreria caso fosse preparado por uma Comissão da CNBB, pois são duas compreensões distintas, ainda que em torno do mesmo ideal de servir a Jesus Cristo. Assim deve ser compreendido este texto, que não é normativo para nós católicos.
Podemos dialogar com todos os homens e mulheres de boa vontade, mesmo aqueles que não possuem a graça da fé. Existem sementes de bem plantadas por Deus em todas as partes. Dialogar é aprender primeiramente a escutar, respeitar, descobrir as razões dos outros, identificar pontos de vista comuns, trabalhar juntos por um mundo melhor. E dialogar é um caminho de mão dupla, no qual os outros também haverão de respeitar-nos, sem impor visões que não correspondem à legítima doutrina católica. Por isso esperamos que cristãos de outras Comunidades Eclesiais ou Igrejas constituídas tenham a sensibilidade para perceber que há vários pontos no texto-base da Campanha, este ano elaborado pelo CONIC, que não podem ser aceitos por nós e não os divulgaremos em nossas Arquidioceses, Dioceses e nossas Paróquias. Temos o direito e o dever de examinar tudo não apagar o Espírito, não desprezar os dons de profecia, mas examinar tudo e guardar o que for bom. “Afastai-vos de toda espécie de mal”, ensina São Paulo (Cf. 1 Ts 5,19-21). Existem grupos pelo nosso país que estão promovendo um verdadeiro boicote à Campanha da Fraternidade, inclusive sugerindo a não participação na coleta da solidariedade, convocada para o Domingo de Ramos e isso aconteceu em nossa cidade João Monlevade e por que não dizer em nossa Paróquia. Tais atitudes rompem a unidade e não contribuem para o crescimento da Igreja, indo além do legítimo direito dos fiéis de se manifestarem perante seus Bispos. O apreço pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, cujos méritos e presença na sociedade brasileira, além de sua missão interna na Igreja católica, são indubitáveis. Esperamos que tais grupos e pessoas reflitam seriamente, busquem o diálogo aberto com os Bispos de suas respectivas dioceses e revejam seu posicionamento.
Uma vez, num encontro com catequizandos, uma criança me parou e me perguntou: “por que a eucaristia é tão importante? “Importante” talvez não seja a palavra mais adequada para definir a eucaristia. Mas pergunta de criança precisa sempre ser considerada, afinal, “o perfeito louvor é dado pelos lábios dos pequeninos” (Sl 8,3). O que então lhe respondi? – “A eucaristia é Jesus. A eucaristia é importante porque Jesus é importante. A eucaristia nasce de uma pessoa: Jesus; nasce de um corpo doado e de um sangue derramado: o corpo e o sangue de Jesus; nasce de um apostolado e de uma missão: o apostolado e a missão de Jesus. Por isto, para entender a eucaristia é preciso entender quem é Jesus Cristo. A eucaristia é Jesus, sua pessoa, sua vida, sua missão, seu corpo e seu sangue, doado e derramado por nós. A eucaristia é “cristofania”: é e fala de Cristo. O lugar, portanto, da eucaristia é na cristologia. Na sacramentária, a eucaristia é o único sacramento que teologicamente pode ser definido assim. De fato, foi Jesus mesmo que assim se auto definiu: “Eu sou o pão da vida” (Jo 6,51). “Isto é meu corpo; isto é meu sangue” (Mc 14,22-23). E para concretizar ainda mais o realismo desta sua auto definição, Paulo pergunta: “o cálice da bênção, que bebemos, não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão que partimos, não é a comunhão do Corpo de Cristo?”
Quando a pastoral da Igreja não consegue celebrar a Eucaristia, faltará algo importante, e tudo tende para a celebração do memorial do Mistério Pascal de Cristo. Em nossa Diocese e país, não é possível ter celebração eucarística todos os domingos. A celebração da Palavra, conhecida como culto dominical,presidida pelos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão Eucarística e dos diáconos, não é a mesma realidade da Eucaristia, mas tende para ela e é sinal deste mistério para a comunidade reunida. Louvamos a Deus pelo nobre ministério destes leigos e leigas, que reunindo a comunidade e celebrando com eles, conduzem a Cristo pela sua Palavra e pela distribuição da Eucaristia. Em Cristo é o elo de comunhão da comunidade reunida. Enfim, sabemos o quanto ter vínculo com uma comunidade é significativo. Não se trata de uma grande construção, uma catedral. Falamos de pessoas, da vida de amizade e da vida divina que as une, em Cristo. Nela, a celebração dominical, sobretudo a Eucaristia, é lugar de celebração da vida, seja das alegrias, das comemorações da vida e, também, dos momentos de sofrimento. Repitamos mais uma vez, com renovada convicção: esta é a minha comunidade. Nela eu vivo minha fé.
Pe. Marco José de Almeida