Queridos irmãos e irmãs, Feliz Natal!
A graça própria da celebração do Natal é a da nossa adoção divina. O “Nativitatis Christi sacramentum” contém a graça para fazer-nos participantes da nobreza antiga, dada pela filiação divina, mas depois perdida por causa do pecado. Desse modo, passamos da condição de “homem velho” para a condição de “filhos de Deus”. É significativo que muitas liturgias tenham privilegiado o texto de Paulo aos Gálatas (4,4-5) na celebração do Natal. A coleta do sexto dia da oitava de Natal, que antes da reforma encontrava-se na Missa do dia, exprime muito bem a espiritualidade própria desta celebração: “0 novo nascimento do vosso Filho em nossa carne mortal nos liberte da antiga escravidão, que nos mantém sob o jugo do pecado”. A “novidade” trazida pelo mistério opõe-se à “antiga escravidão” (“velusta servitus”).
De fato, a encarnação do Verbo traz a libertação para uma humanidade escrava do pecado e em poder da morte. Não devemos, porém, considerar apenas o aspecto negativo de libertação, mas principalmente o aspecto positivo da regeneração. A liturgia fala expressamente de “novo nascimento de Cristo em nossa carne”; isso acontece porque o Pai nos predestinou a sermos filhos adotivos por meio de Jesus Cristo (cf. Ef 1 ,5), a sermos conforme a imagem do seu Filho. 0 mistério do Natal não nos oferece somente um modelo para imitar a humildade e pobreza do Senhor que está deitado na manjedoura, mas nos dá a graça de sermos semelhantes a ele. A manifestação do Senhor conduz o homem à participação da vida divina. Assim, a verdadeira espiritualidade do Natal não consiste na imitação de Cristo “do lado de fora”, mas “viver Cristo que está em nós” e manifestá-lo com a vida no seu mistério de virgindade, obediência, pobreza e humildade.
Leão Magno convida os cristãos a tomar consciência de tanta dignidade: “Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade, e já que participas da natureza divina, não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição. Lembra-te de que cabeça e de que corpo és membro. Recorda-te de que foste arrancado do poder das trevas e levado para a luz e o reino de Deus”.
Portanto, o fruto espiritual do Natal consiste no empenho moral de viver a graça da redenção e da regeneração, de conservar interiormente o Espírito Santo que nos faz filhos de Deus. Enfim, porque Deus nos faz filhos seus em Cristo, inserindo-nos como membros da Igreja, a graça do Natal exige também uma vida de comunhão fraterna.
Cristo Festa da Igreja – O ano litúrgico e Missal Romano.
Pe. Márcio Rodrigo – Pároco – Pe. Elson e Pe. Geraldo Reis – Vigários