Este capítulo apresenta-nos uma situação “sui generis” em nossa história: vai abordar uma comunidade tão antiga quanto a própria comunidade-sede da paróquia. E com um detalhe muito específico: a Comunidade Santa Rita de Pacas, administrativamente inserida no território do município de São Gonçalo do Rio Abaixo, foi agregada em 1993 à Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, cujo território se encontra no município de João Monlevade. Considerando-se que muitos dos primeiros moradores dos antigos Carneirinhos são provenientes desta comunidade, tê-la canonicamente circunscrita aos domínios da Paróquia agrega um valor histórico-cultural de extrema grandeza e enche de alegria a grande família de Deus. Vamos conhecer um pouco da história desta comunidade através do Luci José da Fonseca, nascido na localidade de Pacas em 1947 e membro ativo da comunidade cristã.
Origens – A Comunidade Santa Rita de Pacas está situada às margens do Rio Santa Bárbara, que, explorado por bandeirantes à procura de ouro e pedras preciosas, ensejou o surgimento dos primeiros povoados da região como Catas Altas, Santa Bárbara, São Gonçalo do Rio Abaixo, entre outros. Conta-se que esta região foi ocupada na época do ouro por migrantes de origem estrangeira, deles restando três famílias de origem portuguesa que podem ser consideradas como seus primeiros habitantes. Da primeira família, por ter permanecido muito pouco tempo na região não se tem mais notícia. As outras duas nos interessam, pois se tornaram protagonistas desta história. São elas:
1. A família Bicalho – Ocupando a localidade denominada Currubaça (Fazenda Recreio), tem no Sr. Pedro Dias Bicalho Filho um dos mais antigos representantes. É o Sr. Pedrinho, proprietário da Fazenda de Santa Rita de Pacas, onde nasceu, e nasceram também seus filhos. É o morador mais antigo desta localidade, participou e participa de todos os eventos e merece todos os méritos pelo que fez e faz pela Comunidade Santa Rita de Pacas.
2. A família Santos: ocupando a região hoje conhecida como Retiro, está representada pelos descendentes de José Francisco dos Santos. O início foi com a Fazenda do Retiro, de propriedade do Sr. José Francisco dos Santos, pai de Francisco Faramino dos Santos que se casou com Inês a qual ficou conhecida também com Tia Inês, da família dos Alves, possuidores de grande gleba de terras na localidade conhecida hoje como Bairro Boa Vista.
O Nome – Os primeiros exploradores, sendo religiosos, trouxeram consigo uma imagem de Santa Rita e, escolhendo este local, construíram um pequeno altar onde a deixaram, chamando a localidade de Santa Rita. Mais tarde, devido à quantidade de pacas existentes na região, o nome evoluiu para Santa Rita de Pacas.
Capela e Cemitério – À frente da Igreja de Santa Rita de Pacas havia um antigo Cruzeiro,do qual só restam as pedras que compunham seu pedestal, algumas até com inscrições, revelando sua antiguidade (1856 e 1876). Essas pedras, que durante algum tempo demarcaram sepulturas do antigo cemitério situado diante da primitiva Capela, foram removidas e utilizadas como degraus para a entrada da antiga Igreja. Conta-se que tais pedras se encontram atualmente no interior do cemitério. Da origem deste o que se sabe é que, provavelmente tenha sido utilizado para sepultamento de escravos, vindo posteriormente aser utilizado também por outros. Lá estão sepultados, entre outros: José Justiniano da Fonseca (12.06.1923), Paulino Dias Bicalho (03.09.1936), Lucinda Soares Fonseca(19.08.1941) e Pedro Dias Bicalho (24.04.1948).
A Primitiva Capela – Reza a tradição que a “Tia Inês”, acima referida, possuidora de muitas terras que se estendiam da região hoje conhecida como Bairro Sion até às margens do Rio Santa Bárbara, doou para o patrimônio de Santa Rita uma quantidade significativa de terras e, mudando-se temporariamente para as proximidades deste local, construiu nos fundos deste cemitério uma capela, onde já havia um pequeno altar para proteção da imagem de Santa Rita.
A Igreja Velha – Como a comunidade tinha muita devoção a Santa Rita, com o tempo, a Capela não conseguia abrigar os devotos. Por iniciativa do Sr. Pedro Dias Bicalho e com a ajuda da comunidade, construiu-se uma Igreja maior que atendeu a toda comunidade até o ano de 1960, quando veio a ser demolida. Assim, pelo que foi relatado, presume-se que a existência da comunidade data de tempos anteriores a 1876.
A Igreja Atual – A Igreja atual teve sua construção administrada e conduzida por Pedro Dias Bicalho Filho e Carlos da Mota Moreira, contando com a ajuda de toda a comunidade. Sua construção foi iniciada em setembro de 1957 e concluída em 1961 com sua bênção pelo Arcebispo Dom Oscar de Oliveira, no dia 27 de setembro. Nela se encontram duas preciosidades, que são marcas do passado da comunidade: a primeira é o oratório que pertenceu à Fazenda da Cachoeira, de propriedade do Sr. Antônio Soares Fonseca, que o doou à Igreja de Santa Rita por volta do ano de 1932; a outra é o relógio de parede da Fazenda dos Fernandes, deixado em testamento pelo seu dono, José Pedro de Souza, falecido em 1980. Diante desta Igreja, para ser fiel à tradição, foi erguido em 23 de maio de 1998, um Cruzeiro, confeccionado por José Raimundo Lage Fonseca e Josafá Fonseca Lage, com madeira de lei, doada por José Martins Lage, extraída da Fazenda Damásia. Junto a essa Igreja, há também um cemitério, construído por volta de 1950, mas que ainda não foi utilizado.
Melhorias – Para viabilizar e facilitar a realização das festas, a Comunidade construiu a Casa do Festeiro, cujo terreno foi comprado por iniciativa de José Márcio Moreira Bicalho em maio de 1988. Já a Casa do Festeiro teve sua construção coordenada por José Martins Lage e Pedro Dias Bicalho Filho, ficando concluída em 1991. Em ambas as iniciativas, ressalte-se a participação da comunidade com recursos financeiros obtidos em festas, através de rifas, leilões, barraquinhas e doações diversas. E também do poder público de São Gonçalo que foi parceiro da comunidade nas obras do telhado (Prefeito José Felisberto Fonseca) e do calçamento (Prefeito Luiz Fonseca).
Padres – Enquanto subordinada à Paróquia de São Gonçalo, a assistência espiritual vinha daquela paróquia: em tempos mais antigos, o Padre Vinagre e Monsenhor Torres; a partir de 1924, o Cônego João José Marques Guimarães (1890-1984), conhecido por Padre João, e o Cônego José Lopes Magalhães (1905-1993). Após a agregação à Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, os párocos daquela Paróquia, a saber: Padre Carlos Jorge Teixeira, Padre Aloísio Vieira e Padre Marcos Antônio Rosa.
Atividades Atuais – Este povoado é prestigiado todos os anos com festas religiosas que acontecem duas vezes ao ano na Igreja local. A primeira festa, em homenagem a padroeira Santa Rita de Pacas, sempre acontece no terceiro Domingo do mês de maio, é antecedida por uma novena e animada com leilões. A segunda festa acontece no terceiro Domingo do mês de setembro em homenagem ao Sagrado Coração de Jesus e Nossa Senhora, sendo da mesma forma antecedida por uma novena e animada com leilões. Atualmente, é celebrada uma missa por mês, sempre no segundo Domingo, às 15 horas. A comunidade possui, além de um Coral, equipes de Catequese, Batismo, Crisma e Liturgia. Vem contando ainda com o trabalho das zeladoras Maria Dominga, Conceição e Dalva.
Assim, esta comunidade, sob a proteção de Santa Rita, consciente de sua importância histórica, porque continua uma tradição de mais de um século, inserida nesta Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, quer intensificar sua luta pela edificação do Reino de Deus entre nós, o que se traduz numa vida mais digna para esses membros da família de Deus.”